O Botellon À Alentejana

Botellon em Cartoon

Gosto de Milfontes! Podia acabar aqui o texto e era perfeito. Conheço Milfontes há 30 anos e todos os anos descubro algo novo. Vou a Milfontes no verão mas também no Outono, no inverno, na primavera…

 Este ano descobri algo novo – O Botellon (1) à alentejana! E não gostei…

 Vila Nova (sim para eles é Vila Nova) foi tomada de assalto pelo Botellon, numa versão feia, porca e má. Quem conhece um modelo original sabe que uma cópia perde sempre qualidade e no caso deste Botellon nem se vislumbra qualidade alguma.

 Há uns tempos atrás, ainda o Campo de Futebol era pelado e no verão montavam por lá uns insufláveis para os miúdos, pude ver que um grupo de crianças, sem exagero no termo, bebia alegremente umas “jolas” e arremessava as garrafas vazias para a rua da Casa do povo. “Parvalhões, os putos de agora só sabem fazer disparates” pensei eu! Este ano sem insufláveis, fui confrontado com a nova Vila Nova. Este novo grupo de botelloneros foge ao modelo original, pela idade, rondando os 10/14 anos, pelo comportamento, não se juntam para falar, gritam e insultam-se incomodando todos os que pretendem descansar ou os que passam na via pública quer seja de carro quer seja a pé e só respeita o modelo original porque consome enormes quantidades de bebidas alcoólicas para rapidamente ficarem embriagados.

 A rota botellina ou alcoólica se preferirem está bem definida, um percurso quadrangular entre o CC Litoral, a Rua Moinho de Vento com duas paragens obrigatórias e a sede social do CD Praia de Milfontes. Shots e Jolas (seja mini ou balde) a preço de saldo conjugados com as tradicionais promoções do bebe 2 paga 1.

 O problema está nestes botelloneros, que são apenas CRIANÇAS, sim CRIANÇAS sem mácula de dúvida com bem menos de 16 anos, porque se nalguns a fisionomia engana, aqui nem é o caso, a consumir as bebidas alcoólicas como se não houvesse amanhã, lembrando os filmes de guerra e os soldados na véspera de combates, inebriando-se, anestesiando-se para ir a meças.

 Vi as mesmas crianças de cigarro na mão e jola na outra. Vi crianças prostradas no solo, vi crianças à minha porta a “virar o barco” – TODAS AS NOITES com os mesmos protagonistas.

 Recorri várias vezes à autoridade pública para que pelo menos o barulho cessa-se ou para que se pusesse cobro à venda das bebidas às crianças, que enviava ao local um carro-patrulha provocando uma debandada geral alguns até se escondiam debaixo dos carros, mas rapidamente se reagrupavam – Resultados práticos ZERO.

 A autoridade pública em concreto a GNR mostra-se muito diligente no cumprimento da fiscalização rodoviária, mas inoperante para com os botelloneros. Não havendo flagrante delito ou seja, não se visualizando a venda directa à criança nada se pode fazer. E que se faz então quando uma criança de 10/12 anos está na rua às 02h00 a cair de bêbeda e a fumar cigarros?

 Simples, o papá (espero que seja o papá) vem buscá-la de carro como cheguei a ver, levando de reboque mais 3 ou 4.

 De manhã o trabalho é redobrado para os funcionários da limpeza, apanhando os restos da noite (garrafas partidas, copos de plástico, matéria regurgitada, roupas interiores, etc) EU VI ISTO!

 Os moradores e demais veraneantes depois de uma noite mal dormida encontram os seus carros riscados, escritos, urinados, vandalizados, o que o fim de 2 dias deixa de ser novidade!

 O Botellon e o Binge drinking (2) vieram para ficar e Vila Nova é seguramente uma referência para esta nova ordem de praticantes da modalidade, uma réplica da Oura, de Espanha, das ilhas gregas. Constituiu um problema social e de saúde pública, havendo responsabilidades repartidas pela Junta de Freguesia, Câmara Municipal e GNR, que parece-me vão fazendo ojogo do empurra sem solução à vista.

 Soluções???

 A legislação em vigor mostra-se suficiente, senão vejamos em termos genéricos, Lei do Ruído fala sobre o ruído de vizinhança e períodos descanso, a proibição da venda de bebidas alcoólicas a menores também está legislada, o horário de funcionamento dos estabelecimentos está subordinado ao parecer da Junta de Freguesia e da autoridade policial atestando que o funcionamento não afecta a segurança, tranquilidade e repouso dos cidadãos residentes. O que falta? Falta a vontade para resolver a situação! Enquanto tal não acontece, alguns vão amealhando muitos €€ (fazem o verão como dizem), outros vão sacudindo a água do capote e a imagem de Vila Nova de Milfontes vai ficando beliscada havendo quem opte pelo caminho mais fácil, não voltando concerteza.

 Gosto de Milfontes! Podia acabar o texto por aqui. Poder podia mas não era a mesma coisa…

 1 Reunião massiva de jovens dos 14 aos 24 anos fundamentalmente para consumir grandes quantidades de bebidas alcoólicas que já foram comprados em lojas, para escutar música e falar.

 2 Esta é a expressão utilizada para descrever o consumo excessivo de álcool que corresponde à ingestão de cinco ou mais bebidas alcoólicas num único dia ou momento. Habitualmente ao fim-de-semana, este tipo de consumidor, maioritariamente jovem, procura um efeito de embriaguez ou “pedrada” rápida.

Nuno Furtado

Nota: Como plataforma aberta a colaborações, o vnmilfontes.info divulga frequentemente a opinião de autores externos ao nosso projecto. A responsabilidade por este conteúdo recai exclusivamente no seu autor.

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